HÁ DIFERENÇA ENTRE JUÇARA E AÇAI?
Inexplicavelmente a juçara ou açaí não integra a obra As frutas na Medicina Doméstica de A. Balbach. Também não fora mencionada pelo Frei Cristóvão de Lisboa, sendo, no entanto referida por Frei Francisco de N. Sra. dos Prazeres Maranhão em sua obra Poranduba Maranhense ou Relação Histórica da Província do Maranhão, escrita no início do Século XIX.
Há duas espécies que geram muita confusão: Euterpeedulis ou juçareira , palmeira típica da Floresta Atlântica, distribuindo-se da Bahia ao Rio Grande do Sul. Possui apenas um caule (unicaule) com cachos de frutos sésseis, arredondados, de cor violeta. Os frutos bacáceos, tem um só caroço e uma fina camada de polpa, usada para preparação de um vinho semelhante ao açaí. Até há algumas décadas dela se extraia apenas o palmito, correndo risco de extinção.
Já o açaizeiro ou Euterpe oleracea é nativo na região Norte em terrenos de várzeas e igapós, podendo ser encontrado em terra firme da Região Amazônica, incluindo os estados do Maranhão, Pará e Amazonas. Também encontrado na Venezuela, Colômbia, Equador, Guianas, Brasil (Amazonas, Pará, Maranhão, Rondônia, Acre), assim como em Trinidad e Tobago e nas bacias do Pacífico, na Colômbia e no Equador).
Produz vários perfilhos, formando touceiras. Esses caules, em número de 4 a 8 estipes, com 12m de altura e 14cm de diâmetro, são manejados para a exploração do palmito, ao longo da vida útil da palmeira. Entretanto, o contrabando do palmito em área de proteção ambiental continua sem controle.
A palavra juçara denuncia a origem tupinambá do tronco linguístico tupi, derivando as palavras soshugara e esoshyara ou jyssara (tronco de árvore). Já o termo açaí entrou na língua geral amazônica da família linguística karib, da palavra iwasaí (fruto que chora) oyasai (árvore de águas), utilizada na Guiana Francesa.
As palmeiras podem atingir até 20m de altura, espécie monóica, isto é, com flores masculinas e femininas no mesmo cacho, mas que se abrem em tempos diferentes. Daí a polinização cruzada ser mais frequente.
O tempo de germinação vai de 30 a 60 dias. Entre a floração e a frutificação há um intervalo de 5 a 6 meses. A produção por espécimes com idade entre 6 e 7 anos é de 15kg, que rendem 6 a 10 litros do vinho.
A juçareira é de extrema importância ecológica na cadeia alimentar do ecossistema da Mata Atlântica, responsável, outrossim, pelo desenvolvimento econômico sustentável.
O açaí da E.edulis apresenta perfil lipídico diferente em relação a E. oleracea, provavelmente por causa das baixas temperaturas da região, que influenciam no grau de maturação dos frutos.
Quanto à presença de açúcares o teor mais elevado é encontrado na juçara, sendo mais doce que o açaí.
VALOR ALIMENTÍCIO
O alto valor energético se dá, principalmente, pelo conteúdo total de lipídios que fornecem cerca de 70 a 90% das calorias dessa bebida. Considerada afrodisíaca, usada em caso de disfunção erétil e revitalizadora de energias. A partir dos últimos 20 anos caiu na preferência das academias de ginástica, lanchonetes, restaurantes, em mistura com xarope de guaraná e outros sucos de frutas. Usada, também na preparação de sorvetes, iogurtes, cremes, geleias, pudins e até licor.
Bastante consumida pelas populações ribeirinhas do Amazonas, desde o período pre-colombiano. Também no Pará e no Maranhão.
No Pará a polpa é mais grossa e comida com tapioca. Aqui no Maranhão, o suco é mais ralo, tomado com ou sem açúcar, com farinha seca ou dágua, acompanhada por camarão ou peixe seco.
Antes da fabricação das máquinas processadoras do açaí, inclusive da máquina Expressa, a bebida era obtida de maneira rudimentar, o que deve ser ainda usado nos povoados, Retirados dos cachos, após cuidadosa lavagem, são postos de molho em água quente, dentro de um alguidar de barro. Quando a polpa está mole e solta, amassa-se com as mãos ou com o auxílio de uma garrafa, depois então, é passada numa peneira para reter o bagaço.
Em Belém há algum tempo houve um surto de doença de Chagas, na fase aguda, atingindo toda uma família, sendo atribuída à falta de higienização prévia dos frutos, contaminados com fezes de triatomíneos (barbeiros).
Nas duas espécies, tanto o palmito como os frutos têm as propriedades organolépticas e nutritivas semelhantes.
Até o ano de 2003 era utilizado apenas os frutos da Amazônia; a partir dessa época começaram a ser explorada a espécie da Mata Atlântica, principalmente em Santa Catarina. Na Bahia o cultivo começou a ser feito em função do generalizado uso da polpa.
As sementes liofilizadas e transformadas em pó são usadas em sucos e como suplementos alimentares.
IMPORTÂNCIA EM MEDICINA
Pesquisadores do ITAL (Instituto de Tecnologia dos Alimentos) encontraram nos frutos da juçara/açaí grande teor de antocianina, da família dos flavonoides fitoterápicos, com capacidade de combater os radicais livres, proteger a saúde cárdio-vascular, melhorando a circulação sanguínea do organismo contra o acúmulo de placas de gordura e diminui os efeitos das doenças que atingem a memória e coordenação motora como o Mal de Alzheimer. A antocianina, poderoso anti-oxidante é responsável pela cor escura da casca dos frutos maduros e apresentam o teor mais elevado na juçara (1,347mg) do que no açaí (36mg).
Ajuda a emagrecer pela presença de tocoferol, gorduras ômegas 3 6 e 9, rico, também em gorduras monoinsaturadas e poli-insaturadas que previnem doenças cardíacas, perda da visão. estimulando o metabolismo do organismo ajudando-o a queimar mais calorias. Previne a celulite e protege a pele dos raios solares.
Ricos em sais minerais como fósforo, potássio, cálcio, sódio, magnésio, manganês, zinco, cobre e principalmente ferro. Também, nitrogênio, proteínas, açúcares, lipídios e fibras, além da vitamina A. Os níveis de lipídio, proteínas e cálcio são aproximados do leite bovino, mas a proteína deste é de melhor qualidade. O número de calorias é praticamente igual nas duas espécies.
Os teores de minerais são diferentes em relação às duas espécies, sendo que o ferro se apresenta mais acentuado: no açaí é de 328,5 mg, enquanto na juçara é de 559,6mg. Em relação às proteínas, o açaí apresenta taxas mais elevadas.
O ferro é o elemento mais importante para formação da hemoglobina do sangue, possibilitando a respiração celular. Entretanto, o ferro contido no açaí, é inorgânico ou não hemínico, possui uma taxa reduzida de absorção, formando compostos que são insolúveis e indisponíveis para absorção. A vit. C que propicia essa absorção é encontrada em pequena quantidade.
Pesquisas realizadas na Universidade Estadual da Flórida atribuíram ao açaí papel potencial para enfrentar as condições debilitantes das pessoa, sendo considerado de inestimável valor no tratamento de vários cânceres, pela destruição das células malignas.
OUTROS USOS DO AÇAIZEIRO OU JUÇAREIRA
As folhas são usadas na confecção de chapéus, esteiras, cestos, vassouras, cobertura de casas. As sementes livres do material fibroso que as envolve, são utilizadas, também, no artesanato. A madeira resistente às pragas é usada na construção civil.
Também usado na indústria de cosméticos como manteiga e polpa esfoliante para as pernas, sabonete cremoso e esfoliante, óleo trifásico e colônias.
LENDA DO AÇAÍ
No coração da floresta onde está situada atualmente a cidade de Belém, habitava uma tribo de índios que numa determinada época sofrera com uma grande escassez de alimentos, levando o cacique Itaki a promover um controle populacional para minorar a fome do seu povo.
Para tal determinou que todas as crianças que nascessem a partir dessa data fossem sacrificadas e servissem para alimentação da tribo. Iaçá, a filha mais nova do cacique, deu à luz a um menino que teve o mesmo destino das outras crianças. Inconformada a mãe chorava todas as noites a perda do filho, quando em certa noite de luar, ouviu o choro da sua criança perto de uma bonita palmeira. Feliz, Iaçá abraçou seu filho até que misteriosamente ele sumiu, deixando-a desesperada por vários dias. Mais tarde foi encontrada por sua gente, morta, abraçada em uma palmeira e com os olhos pretos dirigidos para seus cachos. Era um açaizeiro. Comovido o pai mandou apanhar uns cachos com frutinhas escuras como os olhos da filha e amassá-las para extrair-lhes uma bebida que passou a ser a fonte de alimentação da sua tribo. O nome dado à fruta é o nome de Iaçá, ao contrário. Também explicado o significado de iwasai árvore de água e fruto que chora.
O AÇAI NA MEMÓRIA DO AMAZONENSE E NA MPB
“Quem vai ao Pará, parou, bebeu açaí e ficou”- expressão conhecida há muito tempo. Quando se diz que uma pessoa é Açaí de 10, significa que é grossa e arrogante e tem tudo a ver com a espessura da polpa na época da safra.
Na MPB encontramos apenas duas composições, uma de Djavan – Açaí que faz referência à propriedade como guardiã da cultura amazonense e uma de um compositor regional, Nilson Chaves – Sabor Açaí.
Fonte: http://pinheiroempauta.blogspot.com.br/